FUNDAÇÃO APOSTÓLICA DA IGREJA ORTODOXA DE PORTUGAL
 
 


É importante dizer, e duma forma clara afirmar, que a presença da Igreja Ortodoxa em Portugal não é uma novidade surgida nos anos sessenta do século XX. A Igreja Ortodoxa existe em território peninsular ibérico desde a passagem por estas paragens do Santo e Ilustríssimo Apóstolo Paulo, o das Divinas Palavras, que tendo prometido vir ao Extremo Ocidente (cf. Epístola aos Romanos 15,24 e 28), aqui cumpriu a sua palavra (cf. as obras adiante citadas). Ela volta, depois, a Portugal, qual Fénix renascida das cinzas, na segunda metade do séc. XX.

Faz parte da História da Igreja Ortodoxa em Portugal não só a visita do Apóstolo como também a História dos Ilustríssimos Arcebispos Bracarenses e Primazes das Espanhas que, duma forma regular e avisada, combateram heresias e viveram a Ortodoxia.

Entre estes homens que em Braga tiveram o seu Trono Arquiepiscopal, convém distinguir S. Pedro de Rates, seu primeiro Bispo, sagrado por S. Paulo; S. Martinho de Dume, também Arcebispo de Braga, que S. Gregório de Tours louvava como o mais Santo, o mais intrépido Pastor e a maior Luz teológica da Igreja no seu século (VI), no Ocidente; também convém recordar S. Frutuoso de Braga; e o enorme vulto da Igreja, o Senhor Dom João Peculiar, que foi co-fazedor destes Reinos com o seu primeiro Rei, Dom Afonso Henriques.

Por isso tudo afirmamos, sem medo de errar, que a Ortodoxia, em 1968, voltou a uma Casa que fora sua, para se instalar sem falsos preconceitos ecumenistas e nela permanecer, assim Deus a ajude, assim os homens transmitam a sua herança, até à Parusia.

A longevidade da Ortodoxia da Igreja Peninsular (que constatamos ter alcançado o século XII, quando em algumas Igrejas do Ocidente, já no século IX, se perfilhavam algumas heresias) está sem dúvida alguma alicerçada na coragem e na tenacidade que os seus Bispos – ao longo de todo o I milénio – demonstraram ter, pugnando sempre pela salvaguarda da Tradição e Teologia Ortodoxas. Quando afirmamos a veracidade da Fundação Apostólica da nossa Igreja, não somos impelidos, ao fazê-lo, por nenhuma certeza infundada, nem tão-pouco por uma arbitrariedade despropositada; comprovamos unicamente – ao redescobrirmos o passado glorioso desta Igreja – a existência de factos e acontecimentos que, por si só, bastam para legitimar o que temos vindo a afirmar.

São Paulo, cujas idoneidade, seriedade e acção pastoral dispensam considerações, na sua Epístola aos Romanos diz: “tendo já há muitos anos grande desejo de ir visitar-vos, fá-lo-ei quando for às Espanhas [isto é, Península Ibérica, Portugal e Espanha]; pois espero ver-vos de passagem e por vós ser encaminhado para lá, depois de ter usufruído um pouco da vossa companhia... Tendo, pois, concluído isto, e havendo-lhes consignado este fruto, de lá, passando por vós, irei às Espanhas” (Rm. XV,23-24;28).

Esta viagem do Santo Apóstolo, embora tenha sido programada por volta do ano de 61 da nossa era, só fora concretizada entre os anos 64 e 66. Os Judeus (que haviam morto Sant’Iago, Irmão de Cristo, no ano 42), perseguem São Paulo, conseguindo este salvar-se por milagre: salvo pelos Romanos, é por estes conduzido à prisão em Cesareia, onde fica dois anos. Sendo processado pelo Procurador Pórcio Festo, apela para Roma na qualidade de cidadão romano. A apelação foi aceite, tendo o Santo Apóstolo ido para a Capital do Império, à qual chega após uma viagem atribulada que termina com um naufrágio diante da ilha de Malta. Depois da sua libertação, empreende a viagem às Espanhas, no fim da qual regressa ao Oriente, tendo sofrido o martírio em Roma, segundo a Tradição.

São Paulo – como no-lo atestam as três viagens apostólicas anteriores – viajava de barco (nunca por terra), transporte que utilizou seguramente aquando da sua vinda à Península Ibérica.

É também do conhecimento geral, que nas Espanhas a cidade mais importante, servida por um não muito distante solicitadíssimo porto comercial, era Bracara Augusta (actual Braga), cidade consular onde vivia uma numerosa colónia grega, de cuja existência São Paulo sabia, uma vez que estava familiarizado com a cultura helénica, servindo-se dela para a difusão do cristianismo.

São Clemente, Papa de Roma (88-97) menciona, no ano 96, os exemplos dos Apóstolos Pedro e Paulo, enaltecendo o trabalho missionário deste último, relatando que ele se fez “pregador do Evangelho no Oriente e no Ocidente” e que “tendo ensinado a Justiça do Evangelho a todo o mundo e tendo vindo até ao termo do Ocidente e dado testemunho na presença dos chefes, assim saiu do mundo e foi elevado até ao lugar Santo” (Cf. Epístola de Clemente aos Coríntios V,5-7).

O Santo Bispo de Roma, Clemente, era um homem que havia privado com São Paulo, testemunhando inequivocamente a sua viagem apostólica às Espanhas, razão pela qual ele afirma, lapidarmente, sem hesitações, a efectuação da mesma. Quando São Clemente diz que o Apóstolo veio até ao termo do Ocidente, está implicitamente a referir-se às praias lusitanas do nosso actual Portugal; como dissemos anteriormente, a única cidade verdadeiramente importante e conhecida era a cidade consular (Bracara Augusta), que São Paulo ao vir à Península não deixaria de visitar em primeiro lugar.

Um sábio escritor, de nome Gams, estudou detalhadamente esta questão, demonstrando através do testemunho de autores pagãos e cristãos que em toda a Antiguidade o “termo do Ocidente” ou a “derradeira Hispéria”, designa sempre e exclusivamente a parte Ocidental da Ibéria; como é do conhecimento de todos, esse território é aquele que viu nascer Portugal e onde actualmente nos encontramos.

Outro venerando documento (datado de cerca do ano 150) – o “Cânon de Muratori” – para além de incluir o Cânon Bíblico mais antigo do Novo Testamento que se conhece, refere igualmente a mesma viagem do Apóstolo São Paulo, onde pode ler-se: “Lucas narra ao bom Teófilo aquilo que se sucedeu em sua presença, ainda que fale bem por alto da paixão de Pedro e da viagem que Paulo realizou de Roma até às Espanhas”.

O Canon de Muratori é, indubitavelmente, um documento importante, uma vez que, exprimindo a opinião da Igreja de Roma em meados do séc. II, afirma a realidade da viagem de São Paulo às Espanhas.

Os Bispos sagrados por São Paulo nas Espanhas exerceram uma profícua acção pastoral e, volvido pouco mais de um século sobre a estada do Santo Apóstolo nestes territórios, o crescimento da Igreja era de tal forma perceptível que Santo Ireneu de Lião, por volta do ano 180, invocava o exemplo da Igreja das Espanhas contra os hereges.

Algum tempo depois, pelos anos de 200-206, Tertuliano, afirma que o Cristianismo se estendera até aos lugares mais recônditos da Hispânia (Cf. Adversus Iudaeos, 7.4, p. 1354).

Mais tarde (séc. IV) o intrépido e indomável Santo Atanásio o Grande redigiu o seguinte texto: “… O Santo [Paulo] era zeloso o bastante para ter ido pregar tão longe quanto o Ilírico e não se coibiu de chegar até Roma (Romanos 1,15), ou mesmo de avançar até às Espanhas, de sorte que quanto mais trabalhasse, maior pudesse ser a recompensa pelo seu trabalho” (Cf. Epistula ad Dracontium, 4, col. 528).

No mesmo sentido escreveu o Bem-aventurado Jerónimo (331-420) o seguinte: “Paulo, qual flecha do Senhor... após ter percorrido muitos países, apressa-se a dirigir-se às Espanhas e, como uma «flecha» rápida, subjuga aos pés do seu Mestre o Oriente e o Ocidente” (Cf. “Explicação do Salmo XLIV, em carta dirigida à Virgem Principia”.

O mesmo Autor escreveu, ainda: “Quando este apóstolo [Paulo] atravessa tantos mares para vir às Espanhas, prova o que ele esperava desta província” (Cf. “Carta a Lucinus”, espanhol rico, escrita no mosteiro de Belém, em 394).

A viagem por mar era muito mais rápida do que por terra e está não só na linha de coerência das três viagens anteriores, como em harmonia com o temperamento impaciente de São Paulo.

Ainda no mesmo século (IV) São Cirilo de Jerusalém escreveu: “São Paulo... levou a seriedade da sua pregação até às longínquas paragens das Espanhas” (Cf. Catequeses 17,26).

Pouco depois (séc. IV-V) o Divino São João Crisóstomo dá testemunho da mesma realidade, afirmando: [Paulo] esteve dois anos cativo, em Roma, após o que foi liberto; depois, tendo ido às Espanhas aí viu igualmente Judeus e então regressou a Roma, onde foi morto por Nero” (Cf. Comentário à Epístola aos Hebreus, Prefácio, col. II).

O florescente estado da Igreja da Península, que já nos finais do século II se encontrava completamente evangelizada, quando a Igreja da Gália (actual França) ainda nem sequer estava em formação, denota ter recebido um impulso que vislumbramos em todas as Igrejas de Fundação Apostólica.

Somente nos séculos IX e X, altura em que Roma tentou, de uma forma mais visível, conglomerar em torno do seu Pontífice a força política requerida para com êxito poder hegemonizar as restantes Igrejas de Europa Ocidental, é que a Fundação Apostólica da Sé Bracarense, e por conseguinte da Igreja das Espanhas, fora posta em causa. Entende-se bem a razão que terá levado Roma a agir neste sentido; reclamando-se a única Sé de Fundação Apostólica Ocidental, pretendia que lhe fosse reconhecida uma particularidade que (segundo Roma) iria conferir-lhe uma Primazia, não de Honra (como até então), mas de Jurisdição efectiva sobre as outras Igrejas, pondo termo à Autocefalia de cada uma. Roma tentava legitimar, em parte, as suas pretensões hegemónicas, pelo simples facto de se proclamar, em todo o Ocidente, a única Igreja fundada pelos Apóstolos. Quanto à Igreja da Hispânia, no período que se seguiu à invasão dos Moiros, em 711, ficou assaz debilitada, conseguindo no entanto permanecer fiel à Ortodoxia até ao século XII.

A Fundação Apostólica da Igreja de Portugal e das Espanhas é, antes de mais, um motivo de profundo regozijo e sentida alegria, porque esteve há 2.000 anos, no meio deste povo, um Apóstolo; depois, trata-se de uma Justiça Histórica que não pode nem deve ser escamoteada.

Para todos aqueles que com sinceridade se abeirarem da História da Igreja Peninsular no I milénio, a sua Fundação Apostólica não pode, de forma alguma, ser questionável; ela é-lhe outorgada pelo Santo Apóstolo Paulo, havendo sido testemunhada por todas as Igrejas do Ocidente, suas irmãs, estando nelas incluída a Igreja de Roma, como o testemunha São Clemente (88-97), logo no século I, confirmada por inúmeros Padres da Igreja, quer Ocidentais quer Orientais, como o demonstram seguramente os exemplos supracitados.

A viagem de São Paulo às Espanhas era uma realidade aceite, igualmente, por todas as Igrejas do Ocidente, e disto nos dá testemunho uma carta do Papa Gregório VII (1073-1085), dirigida aos Reis Afonso VI de Castela e Sancho II de Navarra, da qual citamos o seguinte extracto: “Como o Apóstolo Paulo dê a entender que veio às Espanhas e depois se afirme que foram sagrados sete bispos pelo mesmo Apóstolo para instruírem os povos desse País, os quais, destruída a idolatria, fundaram a cristandade, plantaram a religião”, etc.; e mais abaixo: “E assim como não duvidais que daqui (isto é, de São Paulo e dos discípulos por ele sagrados) recebestes o princípio da Religião Católica”, etc.

Donde se infere que Gregório VII afirma o que é por Roma tido como certo; os dois Reis de Castela e Navarra, Afonso e Sancho, não ignoravam, nem ainda duvidavam, que de São Paulo e dos seus discípulos receberam as Espanhas os princípios da Fé e da Religião Católica, o que demonstra que esta era no seu tempo a Tradição das Igrejas do Ocidente; demais, dizendo que a missão dos Sete Bispos fora dada por São Paulo, não só precisa a data do nascimento, mas esclarece também que o trabalho do Apóstolo fora continuado e que as Igrejas por ele fundadas desde logo se expandiram por toda a Península Ibérica.

O mesmo é veiculado numa obra de grande envergadura, em cinco volumes, encomendada por Afonso X de Castela e Leão, o Sábio e compilada por Bernardo de Brihuega na 2ª metade do séc. XIII, da qual sobreviveu tão-somente um volume, em tradução portuguesa, num códice alcobacense de 1442-1443 onde (depois de mencionar os dois anos em que São Paulo viveu em Roma em residência guardada) pode ler-se: “...desde esses anos adiante, viveu ele dez anos mais, a seu talante e à sua vontade, sem guarda alguma, pois andou por Roma, pela Itália e pelas Espanhas pregando o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo” (Cf. Vidas e Paixões dos Apóstolos, f. 191c-192a, Vol. II, pág. 100, ed. crítica e estudo por Isabel Vilares Cepeda, série Textos Medievais Portugueses-1, Inst. Nac. Investig. Científica, Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, Lisboa 1982).

Por último resta-nos citar o Cónego J. Augusto Ferreira (sécs. XIX e XX), que na sua obra intitulada “Memórias para a História dum Cisma” afirma lapidarmente que “São Paulo, livre das suas cadeias, fez a viagem às Espanhas, com o fim certamente de completar a missão que havia recebido, de pregar o Evangelho a todos os gentios. Esta viagem marca o apogeu da sua vida, depois da qual o Apóstolo poderia terminar os seus trabalhos, porque a palavra de Deus tinha chagado às colunas de Hércules, limite do Império Romano e do mundo conhecido.

São Paulo não veio às Hespanhas de arribada ou por uma destas contingências da sorte inerentes à fatalidade das cousas.

São Paulo projectou e calculou serena e deliberadamente esta viagem. Sobre a realização da viagem de São Paulo às Hespanhas não pode, pois haver dúvidas algumas”.

Desde o tempo do Imperador Diocleciano (284-305) que a Igreja das Espanhas, aproveitando as divisões administrativas do Império, ficou dividida em cinco províncias eclesiásticas: Cartaginense, (capital Cartagena); Tarraconense, (capital Tarragona); Bética, (capital Sevilha); Lusitânia, (capital Mérida); e a Galécia, (com a capital em Braga).

Cada uma destas cinco províncias eclesiásticas era presidida por um Metropolita, sendo o Metropolita Primaz das Espanhas o de Braga.

No actual território português encontravam-se as províncias eclesiásticas da Galécia e da Lusitânia, conhecendo-se desta época (séc. IV) os Bispos Vicente (300) e Itácio (380-386) de Ossónoba (actual Faro); o Bispo Quinciano (300) de Évora e o Bispo Potâmio (357) de Lisboa.

Dois séculos depois, em pleno domínio suevo, a Metrópole de Braga contava ao seu interior perto de vinte dioceses, das quais citamos apenas algumas: Lugo, Orense, Astorga, Iria, Tuy, Britónia, Conímbriga, Viseu, Dume, Lamego, Porto, Egitânia, etc. A metrópole de Mérida tinha como dioceses sufragâneas: Pax Julia (actual Beja), Lisboa, Ossónoba, Caliábria, Cória, Évora, Ávila e Salamanca.

Os pormenores em relação às várias vertentes da vida cristã nesta época não são muito abundantes. Podemos não obstante afirmar que, em princípio do século V, toda a população hispano-romana se tinha convertido ao cristianismo.

Em meados do século VI, todo o povo suevo, mercê da profícua acção pastoral de São Martinho de Dume, Metropolita Primaz das Espanhas, entra na Igreja Cristã. Ainda no mesmo século, Recaredo rei dos visigodos, com todo o seu povo, graças ao trabalho missionário de São Leandro, Bispo de Sevilha, recebe o Baptismo.

No início do século V, devido à debilidade das estruturas do Império Romano do Ocidente, os povos bárbaros, que se haviam acantonado ao longo das suas fronteiras, fazem diversas incursões em território imperial. De todos esses povos bárbaros, os primeiros a transpor os Pirinéus e a entrar na Península, após haverem assolado as Gálias, são os Alanos, os Vândalos e os Suevos (409). Ao fim de algum tempo de indescritível violência à qual submeteram o povo hispano-romano, decidiram partilhar entre si as várias províncias das Espanhas, nelas vivendo pacificamente a partir do ano 411: os Alanos ocuparam a Lusitânia e a Cartaginense; os Vândalos e os Suevos instalaram-se na Galécia; os Silingos (uma tribo dos Vândalos) decidiram-se pela Bética. A Tarraconense, que então ficara na posse dos Hispano-Romanos, em 416 era ocupada pelos Visigodos, chefiados por Ataúlfo.

Em breve sobrevieram lutas entre os invasores determinando o afastamento de alguns. Os Alanos e os Silingos foram aniquilados no ano 418 pelos Visigodos, tendo os escassos sobreviventes encontrado refúgio junto dos Vândalos, os quais, por sua vez, se deslocaram da Galécia para a Bética, passando em 429, sob o comando de Geiserico, para a África. Na Península Ibérica ficaram então três povos: os Hispano-Romanos, os Visigodos e os Suevos.

Quando chegaram à Galiza, os Suevos eram praticamente todos pagãos e o seu estabelecimento no Noroeste da Espanha perturbou profundamente a vida dos cristãos, sendo muitos dos membros do clero obrigados a abandonar as suas paróquias. São Toríbio de Astorga, regressando de uma peregrinação ao Oriente, surpreendeu um recrudescimento da heresia priscilianista na província da Galécia por essa altura.

Santo Isidoro de Sevilha e Santo Idácio de Chaves informam-se que Requiário fora o primeiro Rei Suevo a converter-se ao cristianismo mas, apesar deste acontecimento, novos motivos de dissidência religiosa surgiram no reinado de Remismundo, pelo ano 465, quando um bispo ariano de nome Ajax, sob a protecção dos Visigodos, entrou nas Espanhas, arrastando o Rei e todo o seu povo para o arianismo, onde permaneceu perto de um século.

Desde o início da invasão dos povos bárbaros até ao fim da primeira metade do século VI, a província da Galécia atravessou uma grande crise político-religiosa, desde a perseguição dos cristãos pelos fanáticos arianos até à profanação dos templos e mosteiros; a própria liturgia ressentiu-se profundamente com toda esta desordem.

De todos os povos bárbaros que invadiram a Península, os Visigodos eram os que haviam tido um maior contacto com o cristianismo. Contudo, no século IV vieram a decidir-se pelo arianismo, devido à acção do bispo ariano Ulfila (311-383) que havia sido sagrado por Eusébio de Nicomédia. Ulfila traduziu toda a Sagrada Escritura e textos litúrgicos para a língua goda, exercendo uma enorme influência sobre os povos godos. Em 414, ao passarem para as Espanhas, os visigodos traziam consigo muito clero ariano, o qual, sob a protecção dos príncipes bárbaros, organizou o culto e edificou igrejas. A guerra que se desencadeara entre os Visigodos e os Suevos teve como consequência imediata o saque e a destruição dos templos cristãos, como se verificara em Braga e em Astorga em 456. As perseguições abrandaram um pouco sob os reinados de Eurico (466-484) e de Alarico (484-507). Seguiram-se à morte do Rei visigodo Alarico alguns anos de paz, que a Igreja peninsular aproveitou para reorganizar a distribuição e colocação do clero, dedicando-se também a um profundo trabalho litúrgico que São Martinho de Dume viria impulsionar. Fora esta a tarefa encetada pelos Concílios locais de Tarragona (516), Gerona (517), Lérida, Valência (524) e Toledo (527).

Os visigodos até ao ano 550 não tinham capital fixa nas Espanhas. É o Rei Atanagildo (544-572) que a vai estabelecer pela primeira vez em Toledo. Com este Rei tem início a época de esplendor da monarquia visigótica. É igualmente com este Rei que Bizâncio retoma parte dos territórios da Península, principalmente junto do litoral, com cidades como Cartagena, Málaga, Cádis, Sevilha e Ossónoba, entre outras, que desde então ficam sob a jurisdição do Império Romano do Oriente, assim permanecendo até o século VII.

Atanagildo continuou com a sua política de tolerância e pensa-se mesmo que terá recebido o baptismo secretamente.

Quando o seu irmão Leovigildo (572-586) sobe ao trono, nova crise político-religiosa eclode nas Espanhas. Casara Leovigildo com Teodósia, a qual, segundo se pensa, seria tia de São Leandro. Leovigildo teve dois filhos: Hermenegildo e Recaredo. Pela morte da Rainha, o Rei casara com Gosvinta, viúva de Atanagildo e fanática ariana. Para evitar dissensões familiares, uma vez que Hermenegildo, seu filho, havia casado com uma princesa cristã, Ingonda, a qual desde logo incorreu no desagrado de Gosvinta, Leovigildo decidiu associar os seus dois filhos ao governo, ao mesmo tempo que os afastava da Corte, enviando-os para outras províncias.

São Leandro baptizou o príncipe Hermenegildo, que imediatamente declarou guerra a seu pai. Este por sua vez instaurou uma nova era de perseguições, enviando bispos para o exílio, favorecendo a apostasia e confiscando os bens da Igreja. Durante um período de seis anos os visigodos cindiram-se em dois reinos, até que Hermenegildo, cercado em Córdova, fora por seu pai destituído de todas as dignidades, despojado das suas funções e enviado para Valência. Depois da sua transferência para Tarragona, é encerrado na prisão onde, após se terem revelado infrutíferas todas as pressões e torturas para que de novo aceitasse o arianismo, foi assassinado a 13 de Abril do ano de 585. A Igreja venera-o, desde então como Mártir.

Nesse ano de 585, seu pai, Leovigildo, conquista a Galiza, procurando que os Suevos aceitem a heresia ariana, tendo provido as Sés de Lugo, Tuy, Porto e Viseu com bispos arianos. À morte de Leovigildo (em 586) toda a Península estava sob domínio visigótico, com excepção dos territórios que dependiam directamente de Bizâncio.

Nesse mesmo ano sobe ao trono o Príncipe Recaredo (586-601). Dez meses depois receberia o baptismo, chamando todos os bispos exilados, entre os quais figurava São Leandro, que de 579 a 586 se tinha refugiado em Constantinopla, onde privou de perto com o Imperador Maurício (539-602). De seguida Recaredo exortou os bispos arianos a abandonarem a heresia, reintegrou os bispos cristãos nas suas Sés e devolveu à Igreja todos os bens dos quais havia sido espoliada.

Em 589, após ter reprimido todas as rebeliões fomentadas por Gosvinta, o Rei Recaredo achou por bem fazer proclamação oficial da sua adesão ao Cristianismo. A 4 de Maio de 589 reunia-se em Toledo aquele que viria a ser o III Concílio daquela cidade, onde estiveram presentes 62 bispos, além dos representantes de outros 5. Presidiu o Concílio o Metropolita Massona de Mérida da província da Lusitânia. Recaredo inaugurara a abertura do Concílio com um discurso e uma declaração de fé, na qual, infelizmente, estava inserida a heresia do Filioque, que nos séculos futuros alastraria por todas as Igrejas do Ocidente. Neste Concílio foi condenado o arianismo e redigiram-se 23 cânones disciplinares. O Rei fora o primeiro a subscrever as actas conciliares, dando foros de lei às decisões do Concílio. O discurso de encerramento foi pronunciado por São Leandro de Sevilha.

Depois do III Concílio de Toledo e dos sete que o precederam no século VI, inúmeros outros viriam a ter lugar durante a monarquia visigótica. No século VII reúnem-se em Toledo 14 Concílios, sendo 12 nacionais e 2 provinciais e 1 Concílio provincial em Braga sob a presidência do Arcebispo de Braga e Primaz das Espanhas Leodecísio, que fora o III bracarense. A presidência dos Concílios reunidos em Toledo repartiu-se entre os Metropolitas de Braga, de Mérida e de Sevilha.
Os Concílios acima mencionados trataram essencialmente de questões disciplinares, tendo redigido perto de 200 cânones, na medida em que as graves heresias que careciam de uma apreciação teológica haviam sido debeladas no século VI.

Bom será realçar que desde a Fundação Apostólica da Igreja Peninsular por São Paulo no século I até à invasão dos Moiros em 711, a Autocefalia das Espanhas é incontestável, não se vislumbrando em nenhum acto eclesial desta Igreja subordinação alguma face a Roma. Desde a nomeação dos seus Metropolitas no princípio do século IV e da divisão da Península em Províncias eclesiásticas, até à sagração dos seus Bispos, convocação e presidência dos Concílios nacionais ou provinciais e eleição dos seus Primazes, age sempre de acordo com os princípios subjacentes a uma Igreja Autocéfala. No decorrer de toda a fase de ocupação moira, as relações que a Igreja das Espanhas mantinha, não só com Roma como com Constantinopla, são interrompidas. Quando no início do século XII estas relações são reatadas, as Espanhas descobrem uma Igreja de Roma separada das Igrejas Orientais, completamente diferente daquela que haviam conhecido até ao século VIII, autocrática e despótica, utilizando o poder secular como meio para atingir os seus objectivos hegemónicos.

Após a morte de Maomé (632), os Árabes empreenderam uma guerra de conquista que em menos de um século lhes granjearia um imenso império, estendendo-se este desde o oceano Índico até ao Atlântico.

Depois de submetidos a Pérsia, o Egipto e a Síria, voltaram-se para o Norte de África, conquistando todo esse extenso território.

Terminada esta empresa, os seus olhos galgaram o Mediterrâneo e avistaram as Espanhas. Motivados pelos sucessos das campanhas anteriores, logo esboçaram planos para a anexação da Península. No ano de 711, entre Abril e Maio, desembarcaram na margem Sul da Ibéria 7.000 mouros e berberes, chefiados por Taric, que imediatamente se apoderaram de Gibraltar, Carteia e Algeciras, prosseguindo até Córdova.

Dom Rodrigo, sucessor do Rei Vitiza (694-709), apesar de não haver conseguido sanar as dissensões internas que o opunham a um outro filho de Vitiza (que se havia proclamado pretendente ao trono visigodo), conseguiu contudo reunir um poderoso exército, indo ao encontro dos invasores.

Entretanto, Taric recebera reforços consideráveis. A batalha entre ambos os exércitos travou-se nas margens do rio Guadibeca, ou Barbate, a 19 de Julho do ano 711.

Dom Rodrigo – traído por parte dos seus homens – desapareceu. Os restantes soldados morreram em combate ou fugiram.

No ano seguinte um reforço de 18.000 combatentes viria engrossar as hostes invasoras e em 7 anos – com excepção de uma pequena região montanhosa no extremo Norte – onde se refugiou Pelágio com alguns sobreviventes do exército de Dom Rodrigo – toda a Península ficava submetida aos Mouros.

Desde a data da conquista até 755, toda a Ibéria passou a constituir uma província (emirato) do califado de Damasco, sendo dirigida por um governador.

Com a anexação da Península, os Cristãos sofreram sérios revezes, sendo privados da sua antiga liberdade. Doravante, humilhados pelos Mouros, foram espoliados das suas terras, os seus bens confiscados, as suas igrejas e mosteiros destruídos, com excepção de alguns, aos quais aprouve concertar pactos com os invasores. A estes, mediante uma dupla contribuição (territorial e pessoal) era-lhes permitido o “livre exercício de culto”, não sem frequentes intromissões e exigências dos conquistadores.

Em 755, chega à Península o príncipe omíada Abderramão I, inaugurando em Córdova a dinastia dos príncipes omíadas, independentes de Damasco, que continuaram a chamar-se Emires, até que Abderramão III (912-961) tomou o título de Califa.

O Califado de Córdova foi extinto no ano de 1031.

Exceptuando os reinados de Abderramão II e de Mohamede I – ambos ligados a violentas e sangrentas perseguições – os Cristãos usufruíram de um período de relativa tolerância.

Todavia, a forçada vizinhança com muçulmanos e judeus permitiu que entre os cristãos moçárabes (cristão em território ocupado pelos muçulmanos) se criasse um ambiente propício à lassidão dos costumes e ao desrespeito do dogma. Assim, no século VIII, propagaram-se nas Espanhas algumas heresias concernentes à Santíssima Trindade.

Durante esta época difícil da existência da Igreja das Espanhas, apraz-Nos registar a acção de Santo Eulógio, que serviu de barreira intransponível aos crescentes atropelos de vária ordem que assolavam a vida da Igreja. Combateu os erros doutrinais servindo-se duma intrépida apologia enaltecendo a multissecular Tradição da Igreja. Tendo sido eleito Arcebispo de Toledo, não fora no entanto entronizado, sofrendo o martírio a 11 de Março do ano 859.

Além de Santo Eulógio, muitos outros cristãos selaram com a vida a sua fidelidade à Igreja. É disto exemplo São Sezinando, martirizado em Córdova a 16 de Julho de 851 (era natural da cidade de Beja).

Com a subida ao trono de Hixeme II, em 976 (com apenas 10 anos de idade) o poder passou a ser exercido na prática pelo general Almançor, o qual viria a morrer em 1002, altura em que entra em declínio o Califado de Córdova. Em 1031 dividia-se em pequenos principados autónomos, até que de 1100 a 1145 os Almorávidas, oriundos de África, impuseram o seu domínio aos vários príncipes dissidentes; era, todavia, tarde demais para conter o avanço dos cristãos. É no tempo dos Almorávidas que a Monarquia Lusitana vai nascer.

Os Cristãos Moçárabes Lusitanos
Em 713, Abde Alaziz, filho de Muça, conquistava as cidades de Viseu, Coimbra e Santarém. Mas os Moçárabes desta faixa peninsular eram dos mais inconformados e insubmissos, tendo protagonizado várias insurreições, uma das quais no tempo de Abderramão I (763-764), que se estendera de Santarém e Lisboa, a Beja e a Évora, tendo ainda alcançado todo o Algarve. A desagregação do Califado de Córdova deve-se, sem dúvida alguma, na sua maior parte, à temeridade e vontade indómita que caracterizaram estes cristãos.

Uma das nefastas consequências da ocupação árabe fora a crescente arabização dos moçárabes, a qual permitiu fosse possível descortinar cristãos participando nos exércitos invasores na conquista de cidades como Coimbra, combatendo os seus irmãos do Norte empenhados na Reconquista.

Passados alguns anos sobre a subjugação da Península Ibérica, perde-se o traço dos Bispos que teriam porventura permanecido sob domínio muçulmano no actual território português. A Igreja fora totalmente desarticulada na sua organização eclesiástica: os seus bispos perseguidos e martirizados; o seu clero disperso: os templos destruídos; os mosteiros saqueados e os fiéis oprimidos sob o jugo férreo dos invasores. A Igreja em territórios moçárabes só sobreviveu graças à fé inabalável desses temerários cristãos que por Ela deram a vida, jamais pactuando com a temível força invasora.

A Igreja no Território Libertado
O espírito que alentou os homens da Reconquista está magistralmente expresso num episódio narrado na “Crónica de Afonso III de Leão de Castela”. Havendo os Sarracenos mandado um exército às Astúrias (Noroeste da actual Espanha) com o fim de desalojar os cristãos, Pelágio – sabendo da sua presença – refugiou-se na Cova de Santa Maria, no monte Auseva. Ao emissário que da parte dos Sarracenos lhe foi enviado com o intuito de o convencer a inutilidade da resistência, respondeu Pelágio da seguinte forma: “– Não me alio aos Mouros nem me sujeito ao seu próprio império. Não sabes que a Igreja se compara à lua, que por algum tempo parece diminuída e depois logo volta ao seu antigo esplendor? Confiados na misericórdia do Senhor, esperamos que neste pequenino monte nasça a salvação da Hispânia”. Após o regresso do emissário ao acampamento moiro. Foi dada a ordem de começar o ataque. Mas Deus protegeu os cristãos e deu-lhes milagrosamente a vitória. Logo a seguir à batalha, Pelágio foi proclamado Rei, tendo-se edificado um santuário à Virgem Maria Mãe de Deus, no lugar em que havia tido lugar o confronto.

As circunstâncias que presidiram à ocupação do Noroeste da Península pelos Muçulmanos permanecem bastante obscuras. A Reconquista foi demorada e cheia de vicissitudes. Afonso I, no ano de 753, tomou as cidades de Braga, Porto, Viseu e Chaves. Mas como não pôde consolidar e manter estes territórios, matou os ocupantes muçulmanos, levando os cristãos para as Astúrias. Somente no reinado de Afonso III, retomada da cidade do Porto pelo conde Vimara Peres em 868, fora possível restabelecer definitivamente nessa região o domínio dos Cristãos. A Igreja em território libertado rapidamente se desenvolveu. As paróquias rurais surgiram às centenas. Em relação aos mosteiros, calcula-se que nas regiões libertadas existiriam à volta de 2.000 com uma média de 30 monges cada, o que perfaz um total de cerca de 60.000 monges para uma população que não iria além de 1.000.000. Esta apreciação permite-nos, com alguma exactidão, ajuizar a vitalidade da Igreja nestes tempos. Por volta do ano 880 eram restauradas e repovoadas as cidades de Braga, Porto, Chaves, Viseu e Lamego.

Posteriormente a esta data, o território entre Douro e Mondego foi frequentemente devassado pelas invasões mouras que pretendiam conquistar a Galiza, tendo caído em posse dos muçulmanos nos finais do século X. Fernando Magno, Rei de Leão e Castela (1037-1065) vai novamente trazer os limites dos territórios dominados pelos Cristãos até ao Mondego, tomando em seguida Seia (1055) Lamego (1057), Viseu (1058) e Coimbra (1064). Trinta anos volvidos sobre estes episódios, Afonso VI avança até ao Tejo, conquistando Lisboa, Sintra e Santarém (1095), cuja posse não logrará manter, e organiza a administração dos territórios ocupados.

Os restantes sucessos militares decorrem já dentro da Monarquia Portuguesa, desde a altura em que Dom Afonso Henriques toma definitivamente Lisboa, em 1147, até Dom Afonso III, que em 1249 conclui a conquista do Algarve.

Impõe-se ainda uma palavra sobre aquele que fora, sem dúvida alguma, um dos últimos defensores (e dentro eles o maior) da Primazia de Braga na Igreja das Espanhas – Dom João Peculiar.

Foi um dos 12 Cónegos Regrantes fundadores do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Sagrados Bispo, ocupou a Sé do Porto, da qual passou à de Braga, por morte de Dom Payo, na qualidade de Metropolita de Braga e Arcebispo Primaz das Espanhas.

Muito cedo se viu confrontado com a questão da pseudo-primazia de Toledo, que os Arcebispos desta cidade reclamavam invocando a posição singular que Toledo teve enquanto centro administrativo de Império Visigodo. Como Dom Afonso VII, Rei de Leão e Castela, se intitulava ser o legítimo herdeiro do ideal visigótico, almejando concretizar a unificação política da Hispânia, a Sé Toledana achou oportuno – escudada pelo poder régio – reivindicar um direito que nunca lhe assistiu.

Felizmente as pretensões de Toledo encontraram em Dom João Peculiar um acérrimo e indomável opositor.

Furtou-se sempre as vontades dos Bispos de Roma – como Eugénio III (1145-1153), o qual lhe ordenara prestasse homenagem ao Primaz de Toledo, posto que naquele tempo os Bispos de Roma viam nos prelados daquela cidade o meio mais eficaz de contornar e influenciar o poder político na Península – e quando Papas como este Eugénio III, Adriano IV (1154-1159) ou Alexandre III (1159-1181) o admoestaram e ameaçaram, o temerário Metropolita de Braga partiu para Roma (onde fora não menos de 7 vezes) resistindo a todas as tentativas de coacção, removendo todas as sanções – consolidando a Autocefalia da Igreja Hispânica e salvaguardando a ancestral Primazia da mui nobre e cristã cidade de Braga. Pena foi que os seus sucessores no Sólio Metropolitano Bracarense não soubessem esgrimir com a mesma destreza – que o notabilizara – a espada inquebrantável da temeridade e da justiça, às quais jamais se eximira.

Dom João Peculiar consegue no tempo do seu pontificado restaurar as Instituições canónicas da Igreja, conferindo-lhes operacionalidade, mesmo face às constantes tentativas de ingerência exterior que já então visavam transferir para Roma o poder decisório próprio à Igreja Autocéfala das Espanhas. É ele (com o seu Sínodo) quem decide da oportunidade da abertura das dioceses; quem sagra os Bispos; quem legitima a fundação dos mosteiros – um acto por ele praticado já no fim do exercício do seu múnus episcopal é indesmentivelmente demonstrativo do seu perfil de Primaz plenamente assumido. Passado que era um ano sobre a partida para os Céus de São Theotónio, reuniu Dom João Peculiar os seus prelados diocesanos, entre os quais referimos a presença dos Bispos Dom Miguel de Coimbra, Dom Odório de Viseu, Dom Pedro de Porto e Dom Mendo de Lamego. No dia do seu aniversário a 18 de Fevereiro, fosse dos anos de 1163 ou de 1167, glorificando (canonizando) São Theotónio, que em virtudes a todos excedeu em seus dias.

O período que medeia do princípio do século IX até ao século XII foi determinante para o futuro da vida da Igreja das Espanhas. No espaço de tempo abrangido por estes três séculos, as relações assíduas da Igreja Hispânica com as demais Igrejas Cristãs Ortodoxas, são interrompidas. Entretanto, o Ocidente presenciava a metamorfose da Igreja de Roma, cujos atropelos à Tradição, deturpação dos dogmas e improvisação eclesiológica, a iriam conduzir à separação das Igrejas Orientais, em 1054.

A Imagem que a Igreja das Espanhas guardava da Igreja de Roma dos primeiros sete séculos, não foi encontrar correspondência naquela que no final do século XII lhe foi oferecer. Destruídas que começavam a ser as Instituições canónicas próprias à Igreja Hispânica no respeitante ao seu poder deliberativo local, em breve Roma iria colher os frutos do seu plano centralizador, que visava erguer em todo o Ocidente a voz incontestável do seu Bispo, o que acabaria por conseguir em parte, graças à inércia e inoperância dos Bispos diocesanos de Portugal e da Espanha e à tibieza dos seus Primazes.

 

 

 
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